sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Vovó Bebela

Vovó Bebela faria hoje 100 anos. A gente sempre dizia que no aniversário de 100 anos dela faríamos uma  festa de arromba, porque sempre acreditamos que ela duraria para sempre. Não  durou. Foi-se há longos sete anos, num domingo em que eu não estava presente, pois morava em outra cidade.
Ela formou uma famíllia enorme, cinco filhas, não sei quantos netos e bisnetos e nove tetranetos. Meu avô tinha uma foto de um neto lhe entregando um neto (meu neto me dá teu neto). Foram casados por 65 anos. 
Ela amava coca-cola, todo dia bebia um copo no almoço. Nunca foi de muitas posses, mas no seu bolso a gente sempre encontrava  um chocolate quando ela chegava lá em casa. Morava muito longe e não tinha carro, mas isso não a impedia de  ir me visitar a cada resfriado, febrinha, ou saudade mesmo.
Ela se gabava de enxergar sem óculos, de poder andar sozinha, não queria dar trabalho. Qualquer dorzinha ela resolvia com um dorflex e pronto.
Depois da queda que lhe quebrou o fêmur, ficou acamada e não se levantou mais. Foram 93 anos de muita vida.
Eu ainda sinto o cheiro da sua casa, antiga num bairro antigo de Fortaleza, e sou capaz de sentir também o cheiro da galinha e da paçoca que ela fazia aos domingos para a gente almoçar. Adorava ir lá passar o  dia, brincando de casinha com ela, passeando a pé pela vizinhança.
Depois que fiquei mais velha, ela sempre dizia: eu queria estar viva para ver sua formatura. E viu. Queria estar viva para ver isso e aquilo. E viu muita coisa.
Ela disfarçava para os outros netos que eu era a preferida. Depois da queda, resolveu assumir. Ela é a preferida e pronto. Não escondia de ninguém. 
Tenho muita saudade dela, muita mesmo.

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